quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Videogames e Dependência

As dependências acontecem com pessoas que vivenciam uma situação específica e não conseguem mais recuar e voltar para si. Algumas pessoas são capturadas pelas intensidades afetivas da nova experiência e se tornam dependentes. Inicialmente as pessoas se sentem mais vivas quando estão envolvidas com aquilo, mas depois vão se tornando escravas, pois não conseguem recuar, assimilar o que viveram, não conseguem deixar de fazer aquilo.
Comer, praticar esporte, trabalhar, jogar, apostar, consumir, todas as atividades podem assumir uma dimensão explosiva quando a pessoa passa a fazê-las de forma intensa e repetida e não consegue ficar sem elas por muito tempo. Aí se inicia um padrão de dependência.
Toda criança brinca de situações de "faz de conta", brinca de casinha, de boneca, de carrinho, de guerra e de luta. A fantasia e a simulação fazem parte de nossa vida psicológica. A criança brinca com elementos do mundo adulto adaptados para a sua realidade. Neste processo ela encontra um modo de recriar o mundo adulto ao seu modo, dando espaço para viver seus dramas internos e elaborar seus sentimentos. Os videogames permitem a criação de situações de simulação, de faz de conta, porém adaptadas também para os jovens e os adultos. Apesar de serem ficcionais, podem ser experiências bastante intensas, segundo os usuários de games.
Os videogames propiciam experiências virtuais cheias de possibilidades, onde é possível ser um outro além de si mesmo, dar vazão a fantasias que não se tornarão realidade e arriscar comportamentos novos. Num certo sentido, os videogames são também exercícios de libertação. Há uma certa promessa de "superação" das limitações reais da vida, uma negação da morte, permitindo uma experimentação radical sem efeitos reais.
Mas são também estas garantias que podem levar uma pessoa a querer ir sempre um pouco mais, capturada pelo jogo da simulação, no qual há uma suspensão do tempo que não se percebe passar. Em alguns casos o jogador compulsivo pode abafar muitas vozes: o vazio existencial, a falta de sentido, as carências, as frustrações, os sentimentos de inadequação e muitos problemas da vida.
A dependência acaba por tornar-se uma fonte de sofrimento, pois se uma pessoa depende de algo, ela já não faz mais por prazer e sim por necessidade. A pessoa sofre se não jogar e repete exaustivamente seu comportamento de jogar a ponto de comprometer seus relacionamentos, seus estudos, seu trabalho, sua saúde, etc.
O problema não está no game, que pode ser uma boa fonte de diversão e conhecimento, mas no padrão de uso que se estabelece com ele. Algumas pessoas perdem o controle e se tornam dependentes, devendo buscar ajuda psicológica, a fim de superar a dependência e restabelecer as relações familiares e sociais.

Daniela Ribas Lau
Psicóloga, Psicopedagoga e Educadora